O inverno está se aproximando, já retiramos do armário algumas meias-calças e casaquinhos. Com a estação começam as campanhas de doação de agasalho, a junção de pessoas bem intencionadas e instituições sérias ajuda muita gente, mas vale a pena lembrar que as roupas precisam estar em bom estado, não dá para oferecer farrapos para os necessitados.
Todo mundo já ouviu falar que uma boa faxinada no guarda-roupas renova as energias, faz bem tirar o que não é mais útil, fora que doar algumas peças de roupa livra um pouco o peso da consciência do pecado, que são as farras consumistas.
Pois bem, a limpeza começa e você se dá conta de que tem roupas-de-ficar-em-casa em demasia, fácil, você pega metade delas e coloca numa sacola, isso inclui alguns moletons antigos e agasalhos de ginástica meio encardidos. As camisetas que não são usadas desde a adolescência viram pano de chão.
A dificuldade começa na etapa das roupas bacanas abandonadas, aquelas assinadas por algum designer, ou que custaram os olhos da cara, ou que teriam custado os olhos da cara se não tivessem sido compradas num mega-surto-bazar de uma loja chiquérrima. Mesmo que elas não sirvam mais, ou que já não sejam usadas há algumas temporadas, pode haver um sentimento de dó de se desfazer delas. Daí vem a decisão de guardá-las e repensar o assunto.
Além disso, algumas roupas carregam memórias, lembranças de um momento, de uma pessoa. Por mais materializado que seja o mundo moderno, certos sentimentos materiais vão além do possuir, chegando a ser terno. Talvez seja essa a dificuldade do brasileiro de vestir e consumir roupas usadas.
Alguns dizem que o nosso problema é a herança cultural, não sofremos como os Europeus o crítico período pós-guerra, fomos (mal-)acostumados com o novo, com o fresco. Verdade! Mas para alguns a dificuldade pode ser conviver com os "fantasmas" carregados junto com as roupas usadas.
Não apenas simbolicamente, as roupas são impregnadas com, além da identidade pessoal, o perfume, a forma e até um pouco dos hábitos de quem as usa, através de um puído, um furo, um botão caído. Quando um ente querido falece, por exemplo, é preciso tratar de vários processos burocráticos que são chatos e inconvenientes, mas doloroso mesmo é dar destino aos pertences pessoais.
Há também que seja da vertente do "Lavou tá novo!", que não perde uma boa pechincha. Afinal, vivemos num mundo globalizado, muito por isso o hábito de comprar em brechós e sites como enjoei(e to vendendo).com.br, além de econômico é muito descolado. Com um pouco de paciência e bom gosto é possível fazer ótimos negócios.
Há quem promova reuniões entre mulheres para trocar roupas, escambo mesmo, como antigamente. Nesses eventos é possível trocar o motivo do seu enjôo pelo motivo do enjôo alheio.
Huuuum, acho que conhecemos muita gente de bom gosto e um evento de escambo lá no espaço Malola|Gylló seria um sucesso. Não seria?
De qualquer forma, dar aquela liberada e organizada no armário ajuda na hora de se vestir, de visualizar as disponibilidades, muitos personal stylists dedicam muito tempo para isso com seus clientes. Mas isso é tema para um próximo post.